domingo, 19 de janeiro de 2014

Oficinas de Arqueologia Experimental do Paleolítico - 13 de Janeiro de 2014

Oficinas de Arqueologia Experimental do Paleolítico - 13 de Janeiro de 2014

Oficinas de Arqueologia Experimental do Paleolítico
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Oficinas de Arqueologia Experimental do Paleolítico

As Oficinas de Arqueologia Experimental do Paleolítico, sete ao todo, decorreram hoje na maior das normalidades e com os alunos a trocarem de turno sem alarido nem confusões.
A história, contada pelo arqueólogo Dr. Jorge Sampaio, desenrolou-se sempre à volta de um pequeno grupo de caçadores-recolectores, nós próprios, que, depois de transportado numa espécie de máquina do tempo mental para o Paleolítico Superior, se viu forçado a sobreviver da forma usual à época, estranha para gente do século XX/XXI.
Naquele dia estávamos com fome e sem reservas alimentares, nada de carne conservada no gelo, nada de carne fumada, nada de carne seca, peixe também não, precisávamos mesmo de caçar um auroque ou um veado, de qualquer modo um animal de grande porte para repormos as reservas alimentares do pequeno grupo mas para isso precisávamos de construir uma azagaia para usar com o propulsor, aquela máquina maravilhosa equivalente, em importância, a um tablet dos dias de hoje.
Começamos por ver as propriedades do quartzito, esmagadoramente utilizado, juntamente com o quartzo, na indústria lítica do Vale do Côa, porque aí existentes, mas de pior comportamento em termos de dureza, durabilidade e eficácia por comparação ao sílex, só marginalmente usado pelas populações que habitaram o Vale, correspondendo apenas a cerca de 1% de toda a indústria lítica aí descoberta já que era "importado" de longe, da Estremadura portuguesa ou dos vales do Douro e Tejo internacionais, em território correspondente à actual Espanha.
O talhamento do sílex foi demonstrado pelo Dr. Jorge Sampaio que, de seguida, fez um denticulado numa lasca transformando-a numa autêntica serra excelente para serrar madeira ou osso, o que foi experimentado e demonstrado. Serrado o galho de madeira comprido, endireitado e endurecido sob a acção do calor e, com a ponta de osso ou sílex já feitas, foi hora de pensar na corda e na cola a utilizar para unir a madeira ao osso ou à pedra depois de colocadas as pontas numa fenda feita numa das pontas da futura azagaia.
Ok, tínhamos de utilizar materiais existentes na natureza para fazermos as cordas que podiam ser realizadas a partir de crinas de cavalos, de tendões de animais, de raízes, de cascas de árvore, de tripas de animais e que, depois de enroladas ou entrançadas deram cordas super resistentes como foi testado pelos alunos que não as conseguiram quebrar apesar de toda a força feita para o efeito. Depois tivemos de pensar na cola, feita a partir de uma mistura de resina, podia ser mesmo resina de pinheiro, a que era necessário misturar hematite triturada num almofariz da época, feito em osso de vaca. Sob acção do lume, os dois componentes misturaram-se e foram aplicados sobre uma peça já encabada com um surpreendente tempo de secagem de uns 10/15 segundos. Portanto, cola, corda, mais cola e a azagaia está pronta a levar os estabilizadores na ponta oposta, feitos de penas de pássaros para que a azagaia, ao ser lançada, plane em linha recta e vá direitinha ao seu alvo.
Mas, entretanto, como era possível fazer o fogo nesta época tão recuada? Pois através de dois métodos - por choque ou percussão de duas pedras - e outro - por fricção - que usa dois pedaços de madeira de diferentes durezas, a mais macia a que fica fixa e a mais dura a que gira rapidamente sobre a outra.
Entretanto já fomos à caça, tivemos êxito na caçada, chegámos ao acampamento onde já está preparada uma enorme fogueira de dois a três metros de diâmetro com o interior todo forrado com pedra lisas que até podem ser calhaus rolados apanhados no rio que corre próximo do acampamento, descarnamos o animal e toca de grelhar a carne fazendo uma espécie de bife nas pedras, pedras que são previamente aquecidas e onde se colocam os nacos de carne que rapidamente cozinham.
Entretanto também podemos usar estas pedras aquecidas a altas temperaturas para fazer ferver a água e assim cozer os alimentos. A "panela" que contém a água fria tem de ser em pele e ao deitarmos as pedras muito quentes lá dentro a água ferve com uma rapidez incrível! Pura magia!
Bom, de barriguinha cheia vamos fazer arte. No caso umas mãos pintadas em negativo. Podemos construir um aerógrafo primitivo e para isso basta-nos um recipiente de tinta, dois ossos finos e ocos de diferentes tamanhos colocados em ângulo quase recto, um deles, o mais comprido, mergulhado no copo com tinta resultante da hematite moída e misturada com água ou gordura de animal e o outro, mais curto, por onde se sopra fazendo espalhar a tinta sobre a mão pousada sobre uma folha de papel, no Paleolítico sobre uma parede de uma gruta, caverna ou abrigo.
 
E pronto, o dia foi cheio de experiências mágicas que todos recordaremos, por certo, para sempre. É claro que a contribuição do arqueólogo Dr. Jorge Sampaio foi inestimável e fundamental para captar o interesse até dos mais problemáticos. E por isso quero deixar-lhe aqui os meus mais sinceros agradecimentos pela energia, entusiasmo e paixão colocados nas suas palavras e nos seus actos, tão esclarecedores para todos nós.
Penso que não errarei se afirmar que as Oficinas de Arqueologia Experimental do Paleolítico foram do agrado de todos os alunos e de todos os professores que a elas assistiram!
Dever cumprido. A História quer-se coisa entusiasmante!

E a propósito, deixo-vos com o funcionamento de um aerógrafo "paleolítico" que encontrei numa breve pesquisa no tubes.... sim, está tudo no tubes, nós sabemos...
 


Post originalmente feito aqui.

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