segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Oficina de Arqueologia Experimental do Paleolítico

Oficina de Arqueologia Experimental do Paleolítico
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Oficina de Arqueologia Experimental do Paleolítico

A oficina, inscrita no Plano Anual de Actividades do Agrupamento de Escolas de Amarante, e dirigida a todos os alunos que integram as cinco turmas do 7.º ano de escolaridade que frequentam a E. B. 2/3 de Amarante, decorreu hoje mesmo, desde o primeiro tempo da manhã até ao segundo da tarde e foi, como sempre, um êxito.
Assistimos todos, alunos e esta professora que agora escreve este breve balanço da atividade, à Oficina de Arqueologia Experimental do Paleolítico, que nos deixou lá atrás no tempo, no Paleolítico, numa maravilhosa viagem em que fomos conduzidos pelos "nossos" arqueólogos por um dia, dr. Jorge Sampaio e dr.ª Carla Magalhães, do Parque Arqueológico do Côa, que, para além de especialistas nestas andanças, são já velhos amigos deste Agrupamento.
Recupero parte do post que escrevi há um ano, logo após a realização destas mesmas oficinas e que somente adaptarei para as específicas circunstâncias de hoje.

A viagem levou-nos à fase final do Paleolítico Superior para acompanharmos a luta pela sobrevivência de um pequeno grupo de caçadores-recoletores. E a recriação desta história desenrolou-se à volta da fundamental arte da caça e da realização das armas necessárias para esta perigosa atividade, nomeadamente de uma azagaia que exigia o talhamento do quartzito e do quartzo, os tipos de rocha de longe mais utilizados pelas populações ancestrais que um dia habitaram a região do Côa, mas de propriedades não tão espetaculares como o magnífico sílex, de dureza, durabilidade e eficácia incomparavelmente superiores e que também foi utilizado, muito embora só marginalmente pelas populações do Côa, já que apenas cerca de 1% dos instrumentos líticos aí encontrados são em sílex; exigia também o afeiçoamento de um pau comprido e fino que servisse de suporte à ponta de lança e ainda a feitura de corda a partir de crinas de cavalos, de tendões ou de peles de animais, de raízes, de cascas de árvore, de tripas de animais e que, por incrível que pareça, davam cordas super resistentes testadas com toda a força pelos alunos; e passámos à feitura da cola a partir de uma mistura de resina e hematite triturada que, sob acção do fogo, misturaram-se e deram origem a uma supercola muito ecológica e reversível, para além de muito eficaz. Por fim, a azagaia necessitava apenas dos estabilizadores, penas de pássaros, pois então!, que permitiam à arma planar em linha reta, eficazmente em direção ao alvo.
Sempre guiados pela mão dos nossos magníficos cicerones, foi tempo de passarmos ao fabrico do fogo através dos dois métodos usados em tempos paleolíticos - por choque ou percussão de duas pedras e este ano tivemos mesmo direito ao seu fabrico aparadas que foram as faíscas mais gordinhas naquele verdadeiro cogumelo mágico conhecido como casco de cavalo que não só servia para o aparar e alimentar nos primeiros segundos de vida, mas também servia para o transportar, e ainda por fricção, usando dois pedaços de madeira de diferentes durezas, a mais macia, que fica fixa, e a mais dura que gira rapidamente sobre a outra. Falamos ainda do uso do fogo em fogueiras, em alguns casos enormes, de dois ou três metros de diâmetro, que serviam de grelhadores gigantes. Entretanto os alunos olhavam espantados para a água a ferver à conta de pedras muito quentes deitadas dentro da água guardada numa "panela" de pele... sim, era possível fazer um chá paleolítico... quem diria!
E os arqueólogos abordaram a arte - como se conseguiam os pigmentos na Natureza para a fabrico das tintas, como se faziam os pincéis, como se pintavam, através de um aerógrafo primitivo, as mãos em negativo nas paredes das grutas, cavernas, abrigos... e nada melhor do que exemplificar... agora, no século XXI, sobre uma folha branca de papel e foi assim que alguns alunos tiveram direito à sua mão pintada em negativo que ficará arquivada no Portefólio de História
Tal como já escrevi num outro post sobre a mesma temática - Dever cumprido! A História quer-se coisa entusiasmante e esta aula, tenho a certeza!, foi entusiasmante.

Obrigada, dr. Jorge Sampaio e dr. Carla Magalhães pela ajuda inestimável, pelo entusiasmo, pelo contributo ímpar e pela clareza da aula, tão do agrado de todos os presentes.
Continuaremos...

Anabela Magalhães

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